Vestibular – Modernismo – Literatura – Questões 241 a 260
Modernismo – gabarito das questões 241 a 280
Ãndice geral e gabarito das questões de Literatura
241. (FUVEST) João Guimarães Rosa, em Sagarana, permite ao leitor observar que:
- explora o folclórico do sertão.
- em episódios muitas vezes palpitantes surpreende a realidade nos mais leves pormenores e trabalha a linguagem com esmero.
- limita-se ao quadro do regionalismo brasileiro.
- é muito sutil na apresentação do cotidiano banal do jagunço.
- é intimista hermético.
(PUCCAMP) As questões de números 242 e 243 referem-se ao seguinte trecho de Guimarães Rosa:
“E desse modo ele se doeu no enxergão, muitos meses, porque os ossos tomavam tempo para se ajuntar, e a fratura exposta criara bicheira. Mas os pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação.
– Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!…
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar.
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependimento nenhum…
E por aà a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente num desvencido torpor.”
242. (PUCCAMP) O trecho acima representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da literatura contemporânea.
- ficção regionalista, em que se reelabora o gênero e se revaloriza um universo cultural localizado.
- narrativa de cunho jornalÃstico, em que a linguagem comunicativa retoma e reinterpreta fatos da história recente.
- ficção de natureza politizante, em que se dramatizam as condições de classes entre os protagonistas.
- prosa intimista, psicologizante, em que o narrador expõe e analisa os movimentos da consciência reflexiva.
- prosa de experimentação formal, em que a pesquisa lingüÃstica torna secundária a trama narrativa.
243. (PUCCAMP) Liga-se a este trecho de Guimarães Rosa a seguinte afirmação:
- É um exemplo de crise da fala narrativa, dissolvendo-se a história num estilo indagador e metafÃsico.
- É uma arte marcada pelo grotesco, pela deformação, que coloca em cena tipos humanos refinadamente exóticos.
- O autor recolheu lendas de interesse folclórico, que sabe recontar de modo documental, isento e objetivo.
- Um universo rude e um plano mÃstico se cruzam com freqüência em sua obra, fundindo-se um no outro.
- A miséria arrasta as personagens para a desesperança, reveando-se ainda na pobreza de sua expressão verbal.
244. (PUCCAMP) Sobre A hora e a vez de Augusto Matraga é incorreto afirmar:
- Depois de apanhar até quase morrer, Nhô Augusto passa a viver uma vida de penitências e duros trabalhos, numa tentativa de, pelo esforço do corpo, purificar a alma, comportamento tÃpico de mártires e santos.
- Nhô Augusto volta a sentir a sedução da violência quando depara-se com o bando de Seu Joãozinho Bem-Bem, mas resiste, ainda que a duras penas, para não comprometer seu plano de salvação.
- No duelo final com Seu Joãozinho Bem-Bem percebe-se, como, em determinados momentos, as intenções e desejos mais egoÃstas podem se transformar em instrumentos de redenção do egoÃsmo e doação de si mesmo: Nhô Augusto faz o bem (ao salvar a famÃlia do velho da vingança de Seu Joãozinho Bem-Bem) – o que garantiria a salvação de sua alma – por meio da violência destruidora que sempre o fascinou.
- Os jagunços no conto de Guimarães Rosa são irracionais e arbitrários e praticam a violência única e exclusivamente para satisfazer seus impulsos sangüinários.
- A transformação de Nhô Augusto depois da surra pode ser interpretada como uma morte para a vida de maldades e um renascimento para a vida devota e contrita. Neste sentido, pode ser compreendida simbolicamente como parte de um rito de passagem, como o batismo cristão.
245. (FATEC)
“Diadorim me pôs o rastro dele para sempre em todas essas quisquilhas da natureza. Sei como sei. Som com os sapos sorumbavam.
Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria boca; mas era um delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida.”
Assinale a alternativa que apresente, respectivamente: narrador-personagem, obra e autor do texto acima.
- MacunaÃma – MacunaÃma – Mário de Andrade;
- Macabea – A Hora da Estrela – Clarice Lispector;
- Sofia – Quincas Borba – Machado de Assis.
- Riobaldo – Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa.
- Iracema – Iracema – José de Alencar.
246. (U.F.MT) Sobre a autora de “Uma galinha” são corretas todas as seguintes afirmações, exceto uma:
- É uma escritora que representa “certa tendência intimista da moderna literatura brasileira”.
- A obra da ficcionista apresenta “certa preocupação com a valorização das palavras, dando-lhes uma roupagem nova, explorando os limites do significado”.
- Sua temática tem “certa tendência a afastar-se do social, do retrato de uma sociedade em crise, e de fixar-se na crise do próprio indivÃduo”.
- Há nos textos da autora uma “certa ambigüidade, um jogo de antÃteses entre o eu e o não-eu, entre o ser e o não ser”.
- Além de seu Laços de FamÃlia e A Paixão segundo G.H., escreveu ainda Ciranda de Pedra e Romanceiro da Inconfidência.
247. (PUCCAMP) Leia com atenção os seguintes excertos de contos do livro Laços de FamÃlia, de Clarice Lispector:
“Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava. E para aqueles que junto da porta ainda a olharam uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão fechada sobre a toalha como encerrando um cetro, e com aquela mudez que era a sua última palavra.” (“Feliz aniversário”)
“Olhando os imóveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. SaÃa então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da famÃlia à revelia deles.” (“Amor”).
Em ambos os excertos destaca-se um dos temas estruturadores do livro Laços de FamÃlia, já que nele a autora
- explora o imaginário feminino, cuja natureza idealizante liberta a mulher de qualquer preocupação existencial.
- denuncia o conformismo burguês da mulher, fazendo-nos ver que seus inúteis desvaneios a afastam da realidade.
- satiriza a hipocrisia dos laços familiares, propondo em lugar deles a harmonia de um mundo politicamente mais aberto e mais democrático.
- desvela as tensões entre o universo Ãntimo e complexo da mulher e as condições objetivas do cotidiano em que ela deve desempenhar seu papel.
- revela a solidez Ãntima da mulher, mais preparada para o sucesso das relações familiares do que o homem, obcecado por valores materiais.
248. (U.E. Londrina) No livro de contos Laços de FamÃlia encontra-se, aprofundada, uma tendência de Clarice Lispector já anunciada em seu primeiro romance. Trata-se da
- busca de um novo modo de narrar que correspondesse ao modo de comunicação primitivo de suas personagens, nordestinos explorados pela sociedade.
- tentativa de renovar a estrutura e andamento do conto para melhor caracterizar a alma popular, observada por meio do humor e da sátira, principalmente entre os “italianinhos” da década de 20.
- preocupação em denunciar a existência de um grupo marginalizado e explorado pela sociedade, focalizando, ao mesmo tempo, as relações, entre o homem e o meio, numa linguagem concisa e despojada de artificialismos.
- tentativa de penetrar a mente humana, o que significou o rompimento com uma narrativa ligada a acontecimentos exteriores e a necessidade de utilização de uma linguagem, carregada de metáforas originais.
- inovações lingüÃsticas e temáticas exigidas por uma nova concepção de arte, que denuncia os falsos valores da época em que viveu e que antecipava, em muitos aspectos, os ideais da Semana de 22.
249. (FUVEST) A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços de FamÃlia, seria correto afirmar que:
- parte freqüentemente de acontecimentos surpreendentes para banalizá-los.
- elabora o cotidiano em busca de seu significado oculto.
- é altamente intimista, vasculhando o âmago das personagens com rara argúcia.
- é regionalista hermética.
- opera na área da memória, da auto-análise e do devaneio.
(PUCCAMP) As questões de 250 e 251 referem-se ao seguinte excerto do poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto:
“– Nunca esperei muita coisa,
é preciso que eu repita.
Sabia que no rosário
de cidades e de vilas,
e mesmo aqui no Recife
ao acabar minha descida,
não seria diferente
a vida de cada dia:
que sempre pás e enxadas
foices de corte e capina,
ferros de cova, estronvegas
o meu braço esperariam.
mas que se este não mudasse
o seu uso de toda vida,
esperei, devo dizer,
que ao mesmo aumentaria
na quartinha, a água pouca,
dentro da cuia, a farinha,
o algodãozinho da camisa,
ou meu aluguel com a vida.
E chegando, aprendo que,
nessa viagem que eu fazia,
sem saber desde o Sertão,
meu próprio enterro eu seguia.”
250. (PUCCAMP)Â No excerto acima,
- Severino, em meio à retirada, desiste de permanecer por uns dias no Recife, onde esperava readquirir as forças dos membros cansados.
- a expressão “meu próprio enterro eu seguia” indica que, desde o inÃcio de sua jornada pelo “rosário/ de cidades e de vilas”, Severino estava consciente do termo final de sua penitência.
- o retirante chega a seu destino e vê desvanescerem-se no Recife as esperanças já mÃnimas de uma vida melhor, substituÃdas agora por uma trágica convicção.
- o retirante resolve subitamente encerrar a viagem no Recife, certo de que levaria sua maldição a qualquer lugar em que buscasse exercer seu ofÃcio de carpinteiro.
- Severino chega, enfim, ao litoral, e sente que tinha razão em seus fúnebres presságios – presságios que o leitor verá confirmar-se na fala de Seu José, mestre carpina, ao fim do poema.
251. (PUCCAMP) As expressões “rosário / de vilas e cidades” e “meu próprio enterro eu seguia” estão intimamente ligadas ao tema central do poema, que é
- a devoção religiosa dos nordestinos, marca profunda de uma cultura de cuja linguagem o poeta extraiu diretamente o seu estilo.
- a penitente retirada de um nordestino que, ao longo de sua viagem, só a morte vê ativa, e ao chegar ao seu destino pensa não ter razões para viver.
- a busca de esperanças nas condições mais adversas, apoiada na significação do nascimento de Cristo e no confronto da prática religiosa.
- a desmistificação das crenças populares, já que este “auto de natal pernambucano” propõe, na verdade, soluções polÃticas para os problemas sociais do Nordeste.
- a reflexão mÃstica sobre a morte a partir da cultura popular, representada aqui pela figura do retirante nordestino.
(PUCCAMP) As questões de números 252 e 253 referem-se ao seguinte excerto de João Cabral de Melo Neto;
“Falo somente com o que falo;
com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca:
de toda uma crosta viscosa,
resto de janta abaianada,
que fica na lâmina e cega
seu gosto da cricatriz clara.
*
Falo somente do que falo:
do seco e de suas paisagens,
ali do mais quente vinagre:
que reduz tudo ao espinhaço,
cresta o simplesmente folhagem,
folha profixa, folharada,
onde possa esconder-se a fraude.”
252. (PUCCAMP) Este excerto representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da poesia contemporânea:
- a lÃrica confessional, em que a medida dos versos atende à variedade das emoções e ao ritmo subjetivo do poeta.
- a experiência concretista, em que se abandona a linearidade do verso e se espacializam os signos na página.
- a poética construtiva, em que se disciplina um determinado uso da linguagem e se objetiva o limite da forma.
- a denúncia polÃtica, em que a contundência das imagens expressa com indignação as injustiças da organização social.
- a recuperação do ideal modernista, em que se revalorizam a linguagem prosaica e as percepções da vida cotidiana.
253. (PUCCAMP) Neste excerto de João Cabral de Melo Neto está expressa a seguinte convicção de sua poética:
- as palavras são fugidias e indetermináveis, cabendo ao poeta persegui-las nesse movimento imprevisÃvel.
- a forma poética deve ser rigorosa e precisa, traduzindo com senso de limite a materialidade do tema a que se aplica.
- a disciplina poética é alcançada quando se evita a metáfora ou a comparação, empregando-se as palavras enquanto conceitos abstratos.
- a palavra é sobretudo encantamento, e a função da poesia é revestir a realidade com as fantasias da linguagem figurada.
- a arte popular é a verdadeira fonte dos grandes poetas, e é ao povo simples que estes devem decidir a comunicabilidade da poesia.
254. (U.F. Ouro Preto) Sobre Morte e vida Severina é incorreto afirmar:
- O auto utiliza-se de uma linguagem grandiosa, de tom eufórico, para exaltar a capacidade de resistência do nordestino que a todas as privações resiste sem sucumbir. O nordestino é visto aqui sobretudo como um forte e é justamente esta sua qualidade que o texto de João Cabral celebra.
- Severino retirante, em sua viagem, encontra sempre à morte, até que, já em Recife, chega-lhe a notÃcia do nascimento de um menino, signo de que ainda resiste à constante negação da existência “severina”.
- Os versos breves e concisos de Morte e vida Severina acentuam o que tematicamente o poema enfoca: o sufocamento das “vidas severinas”, confinadas no horizonte estreito da vivência nordestina.
- O auto realiza uma personalização dramática de um sujeito coletivo: os “severinos” que a seca escorraça do sertão e que o latifúndio escorraça da terra.
- Pela fala final do mestre carpina, Seu José, o auto parece sugerir que a “severinidade” não é condição, mas estado, não é permanente nem intrÃnseca ao sujeito e, portanto, pode ser transformada.
255. (PUCCAMP)
“Embora a atenção esteja voltada para o objeto fora de poeta, é ainda a emoção poética que prevalece, é o modo de ver do poeta que predomina. Todavia, agora se trata de uma emoção contida, concentrada, de forma tal que a palavra, ganhando espessura, concretude, perde em quantidade para enriquecer-se em qualidade.”
Exemplificam as palavras acima, sobre João Cabral de Melo Neto, os seus versos:
- “Vejo-me estranho a mim, Ã minha voz,
Ao meu silêncio, ao meu andar e gesto.
Que espera o Fogo pra me esclarecer?
Que espera o Fogo pra me refundir?”
- “Meninas de bicicleta
Que fagueiras pedalais
Quero ser vosso poeta!
Ó transitórias estátuas
Esfuziantes de azul
Louras com peles mulatas
Princesas da zona sul”
- “É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza
da palavra escrita”
- “E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; (…)”
- “Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar,
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
256. (U.E. LONDRINA)
“Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se o que boiar.”
Os versos acima exemplificam as seguintes caracterÃsticas da poesia de João Cabral de Melo Neto:
- extrema economia verbal; concepção da criação poética como sinônimo de delÃrio; subjetivismo exagerado.
- contenção do subjetivismo; poesia eminentemente descritiva; incorporação de vozes e ritmos da linguagem afro-nordestina.
- poesia mÃstica; linguagem a serviço da emoção intensificada; quebra da sintaxe poética tradicional.
- descrição impessoalizadora; presença de elementos exóticos da paisagem nordestina; reflexão acerca da própria poesia.
- acentuada tendência para uma linguagem concisa, elÃptica; metalinguagem; ausência de subjetivismo.
257. (U.F.Rio Grande do Sul) Observe os três fragmentos da peça Vestido de Noiva abaixo e determine em que plano se passa cada uma das cenas.
“I
PIMENTA (berrando) – Morreu a fulana.
REPÓRTER (berrando e tomando nota) – Qual?
PIMENTA – A Atropelada da Glória.
REPÓRTER – Que mais?
PIMENTA – Chegou aqui em estado de choque. Morreu sem recobrar os sentidos; não sofreu nada.
REPÓRTER – Isso é o que você não sabe!”
“II
ALAÃDE – Quem terá morrido ali, naquela casa?
CLESSI – Olha! Uma fortuna em flores!
ALAÃDE – Enterro de gente rica é assim.
CLESSI – O meu também teve muita gente, não teve?
ALAÃDE – Pelo menos, o jornal disse.”
“III
MÃE – AlaÃde e Lúcia morando na casa de Madame Clessi. Com certeza é no quarto de AlaÃde que ela dormia. O melhor da casa!
PAI – Deixa a mulher! Já morreu!
MÃE – Assassinada. O jornal não deu?
PAI – Deu. Eu ainda não sonhava conhecer você. foi um crime muito falado. Saiu fotografia.
MÃE – No sótão tem retratos dela, uma mala cheia de roupas. Vou mandar botar fogo em tudo.
PAI – Manda.”
- I – Memória; II – Alucinação; III- Realidade.
- I – Memória; II – Realidade; III – Alucinação
- I – Alucinação; II – Memória; III – Realidade
- I – Realidade; II – Alucinação; III Memória
- I – Alucinação; II – Realidade; III – Memória.
(U.C. de Pelotas) Leia o texto seguinte para responder às questões 258 e 259.
“VIZINHO
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi, outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava do barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explÃcito e, se o não fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a PolÃcia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossÃvel repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossÃvel ao 903 dormir quando o 1003 se agita, pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruÃdo e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar à 21:45 e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 à s 7 pois à s 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que levará até o 527 de outra rua aonde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – prometo silêncio…
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho! Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a vida é bela’.
e o homem trouxesse sua mulher e os dois ficassem entre amigos e as amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”
(Rubem Braga, A Cidade e a Roca).
258. (U.C. de Pelotas) Quanto aos nÃveis da narrativa, a opção inaceitável é:
- O texto é uma crônica: uma narrativa curta, ambientada em pequeno espaço e tempo definidos, e apresentando poucas personagens – seres comuns, sem nada de extraordinário.
- Revela-se uma produção escrita de caráter documental, isto é, não ficcional, não obstante o conflito de tensão máxima vivido pelos personagens.
- A temática é tirada da esfera do cotidiano e o registro que dele se faz vem entremeado de comentários crÃticos entre o homem e a poesia.
- O final da crônica é otimista e acena com uma esperança para a felicidade humana.
- O texto constrói-se em três parágrafos que correspondem à s duas partes básicas: 1a = a real e dolorosa constatação de que “ficamos reduzidos a ser dois números empilhados entre dezenas de outros” (1o parágrafo); 2a = a utopia, o sonho de um mundo solidário, pois “a vida é curta e a vida é bela” (parágrafo 2o e 3o).
259. (U.C. de Pelotas) A idéia básica do texto pode sintetizar-se nos seguintes tÃtulos, exceto em:
- A insensibilidade que decorre da massificação do homem atual.
- Os números com o fator de impessoalização do mundo moderno.
- A impessoalização do homem atual nos grandes centros urbanos.
- A vida, mesmo numerada, é bela e pode ser tolerável contanto que cada um respeite o espaço do outro, ficando dentro de seus limites.
- O homem moderno, massificado, profundamente necessita de calor humano.
260. (FUVEST) Em determinada época, o romance “procurou (…) enraizar fortemente as suas histórias e os seus personagens em espaços e tempos bem circunscritos extraindo de situações culturais tÃpicas a sua visão do Brasil.” (Alfredo Bosi).
Esta afirmação aplica-se a
- Vidas Secas e Fogo Morto.
- MacunaÃma e A Hora da estrela.
- A Hora da estrela e Serafim Ponte Grande.
- Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.
- Vidas Secas e MacunaÃma.
Modernismo – gabarito das questões 241 a 280
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